sexta-feira, 18 de maio de 2012

Portugal . . . Um País Com Um Tecido Empresarial Bem Formado . . .

São obrigatórias 35 horas anuais de formação por lei, para que o tecido empresarial português se torne mais produtivo, competitivo e para que o investimento em capital humano seja rentável. 
Nada mau, até acho bem e está bem visto, não sendo nada que não contribua para o crescimento económico de um país com governantes saudáveis mentalmente, cuja preocupação seja, REALMENTE, dotar os colaboradores de ferramentas ao nível dos restantes trabalhadores das empresas europeias mais competitivas, não vejo mal algum nisto e até aprovo.
Mas o busílis não está na formação . . . ah, pois é!
O drama está quando após mais de não sei quantas 35 horas ao longo de não sei quantos anos, as empresas fecham e os funcionários porta fora!
Desculpem lá! . . . Não está aqui qualquer coisa de errada ou ainda pior, de putrefacto e corrupto? 

Mas por que raio andam as empresas a pagar a outras de formação para dotar os seus mais altos funcionários de informação preciosa e caríssima???
Então mas para onde vai a informação proporcionada pelas excelsas formações, team-buildings, semininários, congressos e afins do mais alto valor humano, intelectual, funcional e outras coisas acabadas em al???

Sinceramente não percebo!
Heis um exemplo da minha própria experiência:
"Bom dia, o meu nome é Catumbério Ferdinando e hoje vamos falar de técnicas de vendas . . . blá . . . blá . . . blá . . ." apresentações para cá, apresentações para lá, todo o género de exercícios e desafios para estimular o intelecto e a criatividade, apresentações de soluções para os exercícios apresentados, e heis que chega o momento mais caricato, para não lhe chamar até anedótico, " . . . na vossa actividade vão deparar-se com clientes e o vosso intuito é obter o máximo de informação útil para o vosso negócio . . . e já agora, sabem porque Deus nos deu duas orelhas e uma boca?
Pois muito bem, para ouvir mais e falar menos!" - pois então meu caro, informo que esse raciocínio está muito correcto, mas vamos lá contextualizar as coisas . . .é porque por via desse raciocínio é assustador o que algumas bocas podem comportar . . . a medir pelos tagarelas compulsivos ou ocasionais, as dimensões que as bocas destes comunicadores natos podem assumir . . . nem me atrevo a imaginar . . . e se me chamam faladora . . . essa imagem mental causa-me uns certos arrepios!!!
"- Não, nós não fazemos perguntas, chegamos e damos a informação e saímos!
- Ah . . . pois . . ." - repare-se o alongado "pois" denotando a ruga bem vincada ao centro da testa - ". . . mas vocês não falam sobre . . ." - aqui acentua-se o ar de espanto e o pensamento "mas que raio venho eu fazer para aqui? . . . mas não eram técnicas de vendas que eu tinha que transmitir a esta gente? . . . será que me enganei e não era esta empresa que estava marcada para hoje? SOCOOOORRROOOO!!!!" . . . tudo isto em alguns milionésimos segundos no cérebro daquele comunicador na casa dos 40, com imagem de charmoso jovial, que por sua vez até era um bom entertainer, juntando sabedoria à boa disposição e encanto para as vistas do olhar feminino.
"- Pois, nós não temos essa função, essa parte é outros colegas da outra empresa para a qual vamos trabalhar, nós não fazemos o mesmo que eles.
- Então mas, . . . ok . . . pronto, em circunstâncias normais estas são técnicas que se usariam, . . . mas caso tenham que usar . . .".
Desconcertante e humilhante . . . no mínimo! . . . mas até foi interessante!
Fique descansado que eu, à parte de me ter chamado demasiado "participativa", senti-me mais enriquecida sobre a temática que usarei quando se verificar útil, nem que seja para manipular amigos e família - nunca se desperdiça nada, recicla-se tudo! - e a empresa sempre pôde meter nos relatórios um número abaixo das 35 horas para nas auditorias o Estado ver que são cumpridores!
É sempre interessante quando a empresa prestadora da formação não faz a mínima ideia da atividade que, na prática, os colaboradores vão desempenhar, já para não falar dos programas a serem ministrados, muito úteis, mas não para este contexto. 
É pelo menos um momento  "hilariante" para quem vai, ainda por cima, iniciar um projecto piloto e que espera um bocado mais de esclarecimento sobre como desempenhar a sua nova e inovadora actividade!
Enfim . . . entre mortos e feridos alguns se escaparam . . .
Para bem dos milhares de funcionários desta e outras empresas ainda de boa saúde, as coisas vão-se aguentando, a criatividade e reciclagem da informação passou a ser o ex-libris de qualquer empresa que se entenda empenhada em melhorar o seu desempenho, interno e externo, uma pequena percentagem faz uso efectivo do que é transmitido e o resto enche formulários para as auditorias e mudam-se passado poucos anos para onde os funcionários são pagos a um quinto do valor do salário, deixando no desemprego largas dezenas ou centenas de pessoas bem formadas nesta exemplar empresa cumpridora . . . 
. . . mas é de valorizar enquanto cá estiveram brilharam os certificados para a melhoria da produtividade interna e externa, competitividade e notoriedade exigidas pelo nosso dileto Estado . . . 


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