domingo, 25 de setembro de 2011

O aniversário, Abel e Caim

Abel e Caim ao pé de algumas famílias, dizer-se-ia que são apenas crianças com birrinhas, mas um pouco temíveis se tiverem armas de arremeço, e outras mais cortantes, nas pequeninas e frágeis mãos, embebidas do espírito de gladiadores sedentos de sangue. Nada mais contraditório, mas aproximado da realidade que assim se revelou enquanto se cantavam os parabéns ao mancebo.
O aniversário, Abel e Caim e a discórdia começou. 
Lançam-se farpas, basucadas fora de alcance, uns quantos touchdown e entra a contra-ofensiva. O momento não poderia ser melhor e mais inesquecível - o aniversário!  
O tom de entusiasmo variado, entre o desafinado, o calado, o indiferente, o feliz, durante o cantar dos parabéns demonstrava o impacto que a existência do primogénito na vida dos circundantes. Poucos, mas maus! 
As palavras escritas não descrevem a emoção fúnebre do entusiasmo com que ecoa os parabéns na sala . . . a Família Adams é mais alegre, solidária, mas cínica, em eventos como este!
Hajam esposas investidas de amor e paixão para amainar, apoiar e alegrar o companheiro perante tamanha desilusão!
Creio já ter assistido a velórios mais alegres e animados! 
Pela 1ª vez, Abel sentiu pena da situação tão desoladora no comemorar de um aniversário, e jura Abel não ter feito de propósito! . . . Nem sequer reparou que o aniversariante estava a reparar!
Há maldades que se pagam bem caras, mas desta vez Abel conseguiu sentir a mais profunda pena pelo seu ato! 
Aquele olhar de sofrimento e de desamparo desmoronou a pedraria cruel que escondia o frágil, mas magoado coração de Abel.
Caim fez Abel chorar por dentro, sem que Caim se apercebesse. Até para Abel foi duro ver Caim tão derrotado, esmorecido com tanta indiferença e tão pouco entusiasmo! 
Chegou mesmo às entranhas da alma de tão desprovida criatura da sua sensibilidade, perante aquele esmorecimento de Caim . 
As duras lutas lascam toda a macieza e candura da alma e a transformam, num piscar de olhos, na mais gélida e agonizante besta!
Abel, por momentos, transformou-se num impiedoso mortal da classe média. Quando acordou da sua hipnose desconcertante, viu o seu irmão e desejou voltar atrás no tempo, ignorar as maldades e provocações dispensáveis e cantar alegremente os parabéns, nem que fosse por um minuto. 
Mas o mal já estava feito e o primogénito na pele sentiu, sem perceber porquê, ou talvez não, toda a tristeza que infligiu ao companheiro de discórdia!
    
      

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